sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Medicamentos na água de rios

Cecy Oliveira.

Fazer uma boa matéria exige não somente esforço, pesquisa, atenção ao que se passa ao nosso redor. Precisa alguma dose de sorte, também. Aquela sorte que nos faz estar no lugar certo e na hora certa. Foi assim quando a Aguaonline dava seus primeiros passos, em abril de 2000. Participando de uma lista de debates internacional encontrei um cientista que comentava o tema da presença dos resíduos dos medicamentos e hormônios na água dos rios e nas torneiras das residências. Contato feito ele se dispôs a escrever um texto para a revista. Pela atualidade do tema que agora é trazido na editoria do Saneamento reproduzimos o material.

Na edição número 5 da Aguaonline, em 2000 este tema estava presente através de um texto especial intitulado: Qual o efeito dos resíduos do Viagra nos organismos aquáticos? escrito pelo pesquisador e químico norte-americano, Louis B. Fournier, da Star Environmental Inc., especial para a Águaonline:

"A maior parte das substâncias que são ingeridas pelos homens e animais passam por significativas mudanças químicas no trajeto pelo interior do corpo onde sofrem a ação dos compostos orgânicos. Saliva, ácidos estomacais e outras enzimas decompõem os alimentos e os remédios, menos aqueles que vão diretamente para a corrente sangüínea. De lá circulam pelo corpo onde são utilizados de várias formas ou enviados para o fígado para serem destruídos ou transformados em outros materiais, como amônia ou uréia, carreadas para a urina.

A maioria dos alimentos ingeridos, como o açúcar dos doces e outros produtos, também são convertidos em dióxidos de carbono e água e expelidos por nossa respiração ou armazenados como gordura. Raramente alguma coisa passa ilesa por nosso sistema digestivo, exceto o que é considerado refugo, que será excretado nas fezes, urina e no dióxido de carbono. Então nossos dejetos são tratados em sistemas sépticos, seja por processos aeróbicos ou anaeróbicos de biodegradação para a eliminação completa dos químicos remanescentes, como amônia, o dióxiodo de carbono e a água.

Durante o tempo de tratamento o esgoto pode entrar no sistema de água subterrânea ou mesmo pelos canais de escoamento pluvial - em casos de sistemas mistos ou onde não exista tratamento - o que pode significar a passagem dos químicos remanescentes. Felizmente, a sensibilidade dos testes analíticos vem se tornando mais acurada em comparação com o que acontecia anteriormente e hoje é possível rastrear componentes que não eram perceptíveis antigamente. Mas ainda não somos capazes de detectar, em alguns casos, concentrações muito pequenas de vitaminas e remédios ingeridos pela população. O que se pode dizer é que há algumas evidências de que substâncias podem passar pelo organismo humano ou animal e pelo sistema de tratamento sem serem completamente destruídas. Evidentemente que uma vez despejadas na água subterrânea, nos rios ou no oceano, podem ser diluídas não deixando traços significativos de concentração.

Que efeitos têm essas baixas concentrações, como detectar a ocorrência, como interagem sobre a vida aquática, etc. são somente conjecturas. Eu não tenho conhecimento de que estejam sendo feitos estudos sobre isto, nem mesmo em agências governamentais que deveriam tratar desse assunto. E nem que tenham razões para fazê-lo. Só espero que isso comece a acontecer. De qualquer forma, como está havendo um aumento populacional e como os esgotos tratados inadequadamente, ou não tratados, entram no ecossistema, há cada vez mais chances de que aconteçam esses impactos adversos na flora e fauna. Especialmente levando-se em conta que as agências governamentais e companhias farmacêuticas, que avaliam os impactos dos novos remédios e drogas, raramente consideram os efeitos secundários além do organismo primário".

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